Texto e arte: Diego Kern Lopes

10.11.09

1.9.7.6.

Esmagado. Duas montanhas. Meu abismo moral. Cada movimento, cada centímetro, cada respirar..... dor. Um espinho entre duas montanhas. Posso machucar as montanhas. O ponto no desfiladeiro infernal. O ponto nodal. Sugado. Drenado. O esboço de um vampirismo primordial. Sonho erguer um dos braços. Mais espaço. Tentar escapar. Criar cerdas. Duras, ásperas, fortes... escalar estas montanhas. Tocar o vértice. A força gentil. Ficar livre. Nadar de forma suave e vigorosa para fora de mim.

28.10.09

The Graveyard School

Desta vez decidi não correr. Vou ficar aqui. Te construí. Te inventei. Ainda não descobri o porquê. Faz mil anos. Vinte mil quilômetros a noroeste do meu inconsciente. Foi ali que pensei. Foi a primeira vez. Sentado sob o sol da primavera. Sentindo o vento da primavera. Coletei as imagens. Inventei versões. Versões tuas e dos contextos. Roubei teu corpo e inventei tua alma. Roubei teu corpo e transformei tua alma. Quando vi, já estava acreditando que era tua alma, teu coração. Tua vez de criar. E criaste. Criaste correntes. Me puxando. Vinte mil quilômetros a noroeste do meu inconsciente. Cada vez mais fundo. Cada vez mais rápido. Caindo. Implodindo. Me consumindo para tentar entender. Por que te criei?

“Down in a hole, losing my soul

Down in a hole, outta control”

AiC

16.10.09

W.B.

Não sou eu. Não és tu. A curiosidade é que tem me movido nos últimos tempos. W.B. nos comentou sobre um abismo no vértice entre o céu e o inferno. É por ele que tenho andado. A cada segundo, a cada passo, tenho sentido o perigo dos meus desejos. Sim, a curiosidade pode matar! A tentação de saber, avançar, desvelar uma pequena certeza sonhada. Meu plano é saber e parar. Margear este abismo, certificar-me e parar. Mas como saber se vou conseguir parar? Como saber se não vou me atirar? Já pensei em abandonar o abismo. Já encontrei este caminho. Já percorri este caminho. Mas voltei. Não sei como, mas voltei. Na verdade eu sei como. O caminho ainda estava vivo dentro de mim. O abismo ainda estava dentro de mim. Como uma raiz. Bastaram poucas e pequenas gotas para este novo germinar.

14.10.09

A arte de ruminar

O céu vai clareando. O sol ainda não nasceu. Hoje é a viagem. Minha última viagem. Todos estão reunidos. Todos falam com todos. Menos comigo. A solidão dos moribundos. Surgem os gritos. Os estampidos. A tropa se põe em marcha. Olho tudo. Cheiro tudo. Escuto tudo. Tento sugar os segundos. Saborear os segundos. Todos falam com todos. Menos comigo. O sol já surgiu. O calor me castiga. O peso da velha carcaça. O peso já vai acabar. A tropa avança. Todos unidos. Todos berrando. Todos falam com todos. Menos comigo. É chegada a hora. Chegamos no rio. Já atravessei esse rio. Nunca olhei para os lados. Sempre olhei para frente. Ninguém olha para os lados. Todos olham para frente. Eu estou no lado. Sou afastado. Um pouco mais longe. É a segurança de todos. Paro na margem. Reluto. Instinto. Sinto a chicotada. Meu corpo pula. Reflexo. Proteção. Caio na água fria do rio. A correnteza é forte. Sinto as primeiras mordidas. Uma. Dez. Mil. Pedaços. Consigo olhar para o lado. Estou escurecendo. Vejo a tropa passar. Eles atravessam o rio. Todos falam com todos. Menos comigo.

7.10.09

Sombra Colorida

Eu sou a sombra colorida
Do sujeito
Cansado
No chão
A propriedade destemida
um ramo nobre da boa solidão
Frente do lado sem saída
Um brinde mudo à estagnação
grito contido na partida
Certeza triste de não ter salvação

Sou tua inércia transferida
desejo oculto de sobreviver
história morta na rotina
fim dos princípios e princípio do fim
vento pesado das esquinas
sonho trancado nos portões
luz doce e cega da neblina
mostra o caminho
e também ilusões

SEDAR




















Não importa o quanto eu durma. Eu sempre acordo. O excessivo despertar é como um câncer. Se alimenta. Cresce. Toma conta. É impossível descansar.

Soul Desertion

Cansaço. A repetição enfadonha das mesmas coisas. Me vi na trincheira. Andando sem direção. Na guerra sem sentido. Sem ver mais sentido. Os dias passam aqui. Lentos. Converso todos os dias. Todos os dias converso sobre as mesmas coisas. Me colocaram num lado. Nem sabia que tinha um lado. Querem que eu continue a cavar. Decidi que não quero mais cavar. Fui mandado para frente. O primeiro a subir na escada. Não lembro mais como é lá fora. Não lembro mais deste terreno. Tenho que esperar o toque do sino, o toque dos apitos. É o sinal para atacar. Esta trincheira virou minha cova. Decidi ir embora. Não vou ficar na minha cova. Os dias já não passam aqui. Não espero o sinal. Subo a escada. Ouço os gritos. Ainda não! Já não me importo mais. Vou sair desta cova. Não ouço tiros. Não ouço explosões. Tudo está calmo. Não tenho inimigos. Não tenho uma guerra. Deixo a cova para trás.