Texto e arte: Diego Kern Lopes

10.10.11

TETRÁLOGO


Toda noite é a mesma merda.
Toda noite, a mesma gata fica presa no salão de festas.
Toda noite ela mia desesperada.
Toda noite eu vou lá.
Toda noite eu vou lá e coloco uma cadeira pra ela sair.
Todo dia alguém vai lá.
Todo dia alguém vai lá e tira a cadeira do lugar.
Todo dia alguém faz com que toda noite seja a mesma merda.





DENTES


Às vezes
eu passo a língua
nos meus dentes
e
imagino
quando
não houver mais língua
só dente






1.3.11

Sobre como a leitura de Swift me inspirou para a elaboração de títulos prolongados e por vezes errados.


Esse título não tem relação com esse texto, pelo menos acho que não.

Na verdade, o que eu queria dizer é que saquei que o outono está chegando, ou que o verão está acabando – isto não importa – através da Fanta Zero.

Sim. Elas sumiram das prateleiras lá por dezembro e voltaram agora, em março.

Qual a importância disto?
Muita!

Fanta Zero é crucial para a preparação de um perfeito Hi-Fi-Lo-Fi.








15.2.11

Sim





















I.
Vou viajar no tempo.
II.
O impossível só existe na linguagem.







21.1.11

A partir de um "discurso do urso"


























Você ouviu esta noite?
Sim.
Então acho que o J.C. ainda está preso dentro dos canos.
Acho que sim. E pelo visto o urso ainda corre atrás dele.
Pelo visto, sim.
Vamos deixar pra depois. Agora ele deve estar dormindo.
É, pelo silêncio, deve estar.
O esquema é tentar salva-lo hoje. Vou deixar a torneira aberta pra ver se ele consegue escapar.
Boa! Só fica atento com o urso. Você tem que ser rápido. Nem quero imaginar um urso aqui dentro do apartamento.
Pode deixar. Quando o J.C. sair eu tiro o tampão da pia. Se o urso passar cai direto no ralo.
Ok então. Vou nessa. Deixo tudo contigo. Vou dar uma voada por aí pra esquentar minhas asas. Vou pro norte. Volto em uns cinco dias. Depois que eu sair, lembra de fechar a janela.
Vou fechar. Cuidado com os ventos. Te espero em cinco dias. Boa viagem.
Até.


18.1.11

V O X



















Sob aquela ponte vive uma voz, que diz:
Visito-te todas as noites quando teu quarto está escuro.
Fico no canto.
Onde três ângulos nascem da junção das duas paredes e do teto.
Fico ali.
Descanso ali.
Sei que tu tentas me ver.
Espremendo teus olhos dentro da escuridão.
Buscas ajuda na claridade que vem da rua e faz nascer a penumbra  em torno de ti.
Até visualizas o ípsilon que as três linhas formam neste meu canto.
Acompanha-as até se diluírem perante tua razão.
Infinitas vezes em poucos segundos.
Mas não adianta.
O centro onde fico continua secreto.
Eu continuo secreto.
Tentas mais duas ou três infinitas vezes até que, abandonada pela paciência, acendes a luz.
 Tarde demais.
Já não estou mais ali.
Estou, agora, atrás dos teus olhos,
rindo de ti.