Texto e arte: Diego Kern Lopes

11.12.10

Dias II









Entretanto, tem dias em que tudo dá tão certo que não dá nem vontade de escrever....
Os últimos dias têm sido assim..... que beleza!

5.12.10

Dias


Tem dias que nada parece dar certo. Tem dias que parece que o “final finalmente” chegou.
Tem dias que a realidade se transforma e se ergue na nossa frente. Ela não é cruel, é crua.
Tem dias que todos os sonhos nos abandonam. Todas as esperanças. Todas as fantasias.
 Tem dias que não conseguimos fazer nada direito. Tudo perde o sentido, tudo perde o brilho. Acaso, destino? Sei que tem dias que tomamos tapas na cara do alvorecer até o anoitecer, e se ficarmos dando sopa, tomamos outros até o próximo amanhecer.
Tem dias que tudo, absolutamente tudo, se torna difícil. Dias onde a sensação constante é de que fizemos tudo errado e agora parece ser tarde demais. Como são intermináveis esses dias! Dias onde ouvimos absurdos dos maiores babacas! Dias em que até a raiva nos abandona. Dias em que não achamos resposta à altura. Dias onde a cretinice, o cotidiano, o comum e o medíocre conseguem se unir para finalmente nos afogar. Dias em que o ar falta e mesmo assim não reagimos. Dias em que a única vontade é a de deixar cair-se de frente numa cama e ficar olhando infinitamente para o chão. Dias onde  parece que tudo que se falou foi mastigado pelo vento e não chegou a ouvido algum.      
Tem dias que nada faz algum sentido.
Tem dias, e estes são muito tristes, onde sentimos que fizemos e demos nosso melhor e isso não foi suficiente, ficou longe do suficiente. Que apesar de todo esforço e alegria faltou-nos asas ficando o chão como nosso único presente.
Tem dias que nós mesmos nos abandonamos, e são nestes dias em que mais sinto medo. 

23.11.10

Na vida adulta






Lembranças:

Não importa se são boas ou más,

Sempre trazem um pouco de dor.

27.10.10

PROYECTO


Você tem que entender, um homem tem suas necessidades! Não consigo mais ficar assim. Isto já está afetando meu sono.
 
Não dá mais, eu preciso de uma mesa de cabeceira.  Toda noite é a mesma coisa: não consigo acender a luz, derrubo o copo da água, tenho câimbras ao tentar desligar o despertador que fica no chão, os livros jornais e cadernos somem em baixo da cama. Não dá mais! Eu preciso urgentemente de uma mesa de cabeceira! E não vai ser uma mesinha qualquer. Eu já sonho com uma plataforma de cabeceira, onde caiba tudo, a casa inteira. A cama será um apêndice, um anexo desta maravilhosa engenharia. Amanhã, amanhã começarei o projeto. Agora preciso dormir. Só que antes preciso achar o maldito interruptor do abajur que está aqui no chão.   

11.10.10

MINOTAURO


Lá estava o Minotauro sussurrando para sua virgem.

Este labirinto é feito de duas perguntas e duas respostas:

Qual a diferença entre a eternidade e a finitude?
Qual a semelhança entre a eternidade e a finitude?

A virgem em seus braços respondeu não saber.

Então, disse o Minotauro:
Se diferem no nada.
A existência os assemelha.

1.10.10

Postulados


I.
Deixaram-no nu.
Vestidos, riram de todas suas formas.

II.
Socos, chutes e afogamentos.
Lentamente a inconsciência os tornava todos iguais.

III.
O sangue já obstruía o ouvido.
Difícil entender o: “FALA, PORRA!”.

IV.
Já havia desistido,
Mas quando ameaçaram sua filha decidiu entregar.

V.
Escreveu numa folha:
“É isso que eu sei e entendo... a definição ainda está inacabada: NO MÍNIMO DUAS PESSOAS E UMA INTENÇÃO DE REPRESENTAÇÃO....”

VI.
Eles leram e não entenderam.
Entreolharam-se e acabaram com o cara. 





14.9.10

HOJE




Versão good day:
Hoje ela acordou decidida a mudar. Pegou um pincel e se coloriu toda.


Versão bad day:
Hoje ela acordou decidida a mudar. Pegou uma faca e se retalhou toda.











9.9.10

Livro VII






















Livro VII da Metafísica do Cotidiano - Capítulo III - São paredes, o teto e o chão? 

"Então disse Nicodemos, o gafanhoto metafísico: 
- Quem não tem chão, cava pro alto." 







26.8.10

box





















I.

A caixa chegou hoje.
Cuidado, frágil!
Este lado para cima.

II.

Ele rasgou os lacres com uma faca sem ponta.
Abriu e não gostou.
Era um ego.

III.

Deixou o ego sobre a mesa e foi tomar banho.





4.8.10

P. o. W.

I

Tentei organizar essa porra!

Quem for bater na minha cara vem da esquerda. Quem for bater no resto vem da direita.

Funcionou no início. Só no início. Não demorou muito pra começar a levar porrada de tudo que é lado e jeito.

II

Achei o interruptor no meio da confusão.

Finalmente consegui acender a luz nesta sala.

33 anos pra ver o rosto dos meus fantasmas.

III

Tentei organizar de novo.

Apaguei a luz. Desta vez não funcionou nem no início. Eles vieram com tudo. Mais porrada pra todos os lados.

O que eles não sabem é que eu consegui ver uma porta no outro lado da sala.





2.8.10

ground

I.

Ela – Deitou-se em seu escritório. Olhou tudo. Viu que não tinha nada. Era tudo dele.

II.

Ele – Um brilho novo no olhar. Planos que ela jamais saberia.

III.

Eu – Observei e não fiz nada.

16.7.10

boi

eu nasci pra morrer
de frio
entre as árvores
e
ninguém
vai lembrar
ou chorar
eu
e mais 30
é assim
eu morri
eu
e
mais 30

14.7.10

Ultra-sobriedade


A ultra-sobriedade paralisou nossos músculos. Ficamos perplexos. Nossos olhos não estavam arregalados apenas fixos. Era o todo. E o todo foi simples, direto, curto,... rápido. Atravessou-nos de uma só vez. Como uma agulha. Uma agulha fina e curta. Trazia consigo o medo, o pavor, o pânico do todo. Isto nos destroçou. Necrosou-nos aos poucos. Sem cicatriz. Sem volta. A ultra-sobriedade. A terrível consciência da marcha inexorável. O todo se tornou nada. Tentamos nos tocar. Não deu. Não fazia mais sentido. O pânico absoluto. Precisamos acabar com nossos sentimentos. Precisamos acabar com nossos sofrimentos. Nossos olhos ainda fixos. Aos poucos não sentimos mais nada. Era o fim que não chega. A espera sem sentindo. O todo estava vazio? Sem imagens, sem palavras, sem pensamentos. Éramos pedras agora. Pedras de carne e sangue frio. Tentamos nos olhar. Não nos víamos mais. O todo agora estava vazio.

10.2.10

Osso do peito

Conjugados pela nossa santíssima trindade, pela nossa tríplice aliança, pelo nosso trinômio perfeito: o tédio, a melancolia e a depressão. Estupidamente insistimos em dissolver este triângulo retângulo com o osso do peito. Na verdade com os ossos de nossos peitos. Já nos falta cabeça, já nos falta pescoço, já nos falta vontade, já não temos mais ânimo. Existimos, dia após dia, como os riscos feitos pelo prisioneiro na parede da cela. Nosso cotidiano é contado a cada cinco riscos. Elegemos marcos estranhos. Bóias. Faróis. Símbolos para não nos perdermos nessa massa contínua na qual tornaram-se os dias. Por vezes nos drogamos – tentativa de atenuar os sintomas – mas na maioria das vezes continuamos, estupidamente, suportando nossos dias com o osso do peito. 

12.1.10

Cinamomo


Foi quando uma mão gentil me guiou. Sentado na calçada. Sol. Verão. Foi quando a sombra do cinamomo se apresentou. Olhei para os lados. Nada. Tudo quieto e tranqüilo. O cinamomo inclinou-se. Convidou-me para uma escalada. A casca dura e rugosa serviu de ótimo apoio. Não sei se era eu que diminuía ou o mundo que se agigantava. Levei cinco dias e cinco noites para chegar ao topo. Trinta e seis horas de descanso. Um sono profundo. Acordei no escuro. Nas mais profundas trevas. Ao olhar ao redor encontrei uma caverna. Vento e zunido saíam de lá. Uma singela luz amarelo-limão atestava a profundidade do local. Segui a luz. Adentrei a caverna. Cheguei ao fundo. Lá encontrei a origem do vento e zunido. Era um gafanhoto. Afirmou chamar-se Nicodemos. Pintava freneticamente o interior da caverna. Milhões de símbolos. Dizia estar pintando sua cosmogonia. Usava quatro de suas seis patas. Todas ao mesmo tempo. Abanava suas poderosas asas secando a tinta do que já havia feito. Seus grandes olhos verificavam se não havia esquecido de nenhum detalhe. Esta parte chama-se “A metafísica do cotidiano”, venha ver! – disse o gafanhoto. Aproximei-me e me vi pintado em preto e branco. Sorri para mim. Ao olhar mais perto vi as linhas tornando-se gatos. Um preto e um branco. Ambos corriam. Misturaram-se. Tornaram-se cinzas. Uma nuvem cinza que me envolveu. Por um instante tudo fez sentido. A cosmogonia. A teogonia. A metafísica do cotidiano. Acordei-me em meu quarto. Tonto. Não consegui descansar. Uma dor apertava-me o estômago. Virei para o lado e vomitei. No meio do vômito bolinhas de cinamomo e um gafanhoto.  

5.1.10

Um brInDe!


Ali estou eu. Aqui estou eu. Começou há mais ou menos vinte minutos. Dei-me conta de que falo e não digo nada. Dei-me conta de que ouço e não escuto nada. Descobri, há mais ou menos vinte minutos, a mais absurda solidão. A mais absoluta solidão. Meus amigos estão todos mortos. Minha família está toda morta. Sou cercado por sombras e imagens do que não existe mais. O passado fingiu-se vivo nestas complexas animações. Tudo mudou. Não tenho mais o mesmo sono. Não posso mais ter o mesmo sono. Recorro às drogas. O prazer virou necessidade. A inconsciência dos sonhos, quando não sedada, castiga-me a cada novo despertar. Adestro meu id com uma, duas, três garrafas por noite. Foi a solução para suportar a tristeza. Foi a solução para destruir as construções prazerosas. Somente assim, garanto as condições de existência desta realidade sobre a onírica.